Aquecida

Ainda não consigo vislumbrar esse ano que se inícia. Ele anda tão nublado, chuvoso. Dias assim me fazem mais solitária. Tenho uma enorme necessidade de mim. Me recolho, fico quietinha no meu quarto. Acordo cedo, faço meu capuccino, vou até a janela e fico olhando os meus pensamento por um longo tempo. Penso nos sonhos que tive, no livro que vou ler logo mais e em como eu adoro esse ar que só Minas tem. Derrepente me pego lembrando dos tempos de criança e em como era bom morar em frente a um conservatório de música. Um sorriso se desenha em meus lábios quando lembro das brincadeiras pelas escadarias, do pé de manga, das aulas de piano. Me lembro ainda de fugir da cataquese só para ir pintar a cara e fazer palhaçadas com o grupo de teatro. Um dia, em particular, apareceu hoje em minha memória. Foi o dia em que o meu avô me viu na rua, cheia de fitas coloridas nos cabelos e um nariz de palhaço no rosto. Desesperada comecei a chorar, meu avô então, chegou perto de mim e me disse baixinho: " Por que está chorando? Fazer arte é uma forma de estar com Deus. Eu tenho certeza que, assim como eu, ele também devia estar sorrindo ao te ver assim. " Meu coração ficou apertado de saudades e meus olhos já não conseguiam enchergar nada além das lágrimas que se formavam. Ainda de pijamas, voltei para debaixo das cobertas e numa oração completamente espontânea agradeci por tudo de bom que já havia acontecido em minha vida. Então, aquecida pelo capuccino e por deliciosas lembranças, adormeci novamente.